Tranque um ator e uma videoartista num apartamento, ligue algumas câmeras e deixe o tempo passar. Dito de forma muito simplificada, esse é o ponto de partida de “O Amor Segundo B. Schianberg”, o mais arriscado – e experimental – projeto na bem-sucedida carreira do cineasta Beto Brant.
Depois de três filmes policiais, dois deles excelentes (“Os Matadores”, em 1997, e “O Invasor”, em 2001), Brant consolida com “O Amor Segundo B. Schianberg” uma guinada surpreendente em sua carreira.
Ao adaptar, em 2005, “Crime Delicado”, a novela de Sergio Sant´Anna sobre a paixão de um crítico por uma mulher sem a perna, Brant deu a deixa que seu cinema ambicionava ir além da crítica social e política. A impressão se confirmou na sua obra seguinte, “Cão sem Dono”, de 2007, extraído de um romance de Daniel Galera, no qual o foco vem a ser o relacionamento improvável entre um tradutor deprimido e uma modelo exuberante.
“O Amor Segundo B. Schianberg” parece um desdobramento de “Cão sem Dono”. Se no filme anterior a ação se passava em diferentes ambientes de Porto Alegre, neste agora concentra-se, basicamente, entre quatro paredes. E mais, Brant filma o seu casal de forma pouco ortodoxa, com som aberto para todos os ruídos e ângulos improváveis.
O ator Felix (vivido por Gustavo Machado) e a videoartista Gala (Marina Previato) são filmados como se estivessem participando de um reality show. Somos convidados a compartilhar da intimidade do casal, que assistimos comendo, namorando e trabalhando. Também acompanhamos, sem ouvir direito, as conversas da dupla sobre a própria relação, sobre amor, sobre arte, enquanto Gala faz um vídeo, que será exibido na conclusão do filme.
O título do filme, “O Amor Segundo B. Schianberg”, já diz bastante das intenções metalinguísticas de Brant. Benjamin Schianberg é um personagem do romance “Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios”, de Marçal Aquino. Apresentado como “filósofo do amor”, é o autor de uma obra a que Marçal recorre com freqüência na construção da narrativa, o livro de auto-ajuda “O que vemos no mundo”.
“O Amor Segundo B. Schianberg" constrói-se, assim, como um filme dentro de um filme discutindo o tempo toda a própria ideia de representação. Trata-se, evidentemente, de uma proposta para um pequeno público, interessado em pensar o cinema, as suas possibilidades e os seus limites.
Fonte: cinemauol.com.br