A um jovem Poeta

Você, que ainda é puro e sabe o quão fundamental é ela para a sua aventura de poeta, fica irado contra os outros, ao sentir que a sua presente agressividade é fruto de um complexo de culpa. É você, não os outros, quem está em crise. E se os outros também o estiverem, razão a mais para você afirmar-se em sua luta, que é a luta de todo poeta, para ajudá-lo a sair dela. Pois você não auxiliará ninguém, muito menos a si mesmo, se seu coração não estiver limpo de ressentimento e sua luta contra "o outro" não for constante. "O outro", não preciso dizer, é você próprio. É o súcubo que, todos, temos dentro de nós; o ser calhorda, comprável com a moeda da mentira e da lisonja, que de repente adota a gratuidade como norma, por isso que a paixão é mais insaciável que o infinito aberto em cima. E a paixão não se vende nunca.
Cada poeta é uma coisa em si, mas todos os poetas devem o mesmo à Poesia: a própria vida. Há, o poeta, que queimar-se e causar sempre mal-estar aos que não se queimam. Há que ser o grande ferido, o grande inconformado, o grande pródigo. Há que viver em pranto por dentro e por fora, de alegria ou de sofrimento, e nunca dizer "não" a ninguém, nem mesmo àqueles que optaram pelo não chorar.
Você meu caro Jovem Poeta, que foi dotado de talento e de beleza, não tem o direito de negar-se ao seu martírio. Só ele pode tornar a sua poesia emocionante. Só ele pode salvá-lo do formalismo em que caem os que se recusam a estar sempre despertos. É preciso que todos vejam a luz que seu coração transverbera, mesmo coberto por bons panos. Não negue o seu olhar de poeta aos homens que precisam dele, mesmo tendo o pudor de confessá-lo. Abra a sua camisa e saia para o grande encontro.
Vinicius de Moraes

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

4 meses de saudade

Hoje completa 4 meses do assassinato de meu amigo Mario. não planejei escrever esse artigo, mas meu coração pediu ao ver meu blog. A todo momento me sentia apoiado por ele no meu empreendimento com as novas mídias. É significativo que a ultimas palavras que ele me falou foi sobre o Twitter, um elogio por ter atualizado.

Que saudade sinto Amigo! falo como se pudesse estar aqui para ler! Aquela conversa a quatro meses atrás. se soubesse que era sua despedida seria diferente.

Lembro o café das madrugadas!
Do seu sorriso!Daquele olhar que incluia a todos!
Um olhar simples, mais humano e acolhedor!
E quantas vezes vi aquele olhar se perder nos horizontes de preocupações que não conseguia sondar.

Na quinta feira passada comecei a sorrir! me lembrei de quando era adoração e você todo comprido, entrando com um pequenino Ostensório. rsrsrsrs

Um grande amigo... de sorvetes na praia, de cervejas na festa, de Pastoral da Comunicação, de Compahia no Seminário, de irmão, confidente.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Momento Ciência

Assista o quinto Momento Ciência: Produção Ascom UFMA
http://www.youtube.com/user/TVASCOMUFMA#p/u/7/U4P-GyAha2k

Inatingível (Vinicius de Moraes)

O que sou eu, gritei um dia para o infinito
E o meu grito subiu, subiu sempre
Até se diluir na distância.
Um pássaro no alto planou vôo
E mergulhou no espaço.
Eu segui porque tinha que seguir
Com as mãos na boca, em concha
Gritando para o infinito a minha dúvida.

Mas a noite espiava a minha dúvida
E eu me deitei à beira do caminho
Vendo o vulto dos outros que passavam
Na esperança da aurora.
Eu continuo à beira do caminho
Vendo a luz do infinito
Que responde ao peregrino a imensa dúvida.

Eu estou moribundo à beira do caminho.
O dia já passou milhões de vezes
E se aproxima a noite do desfecho.
Morrerei gritando a minha ânsia
Clamando a crueldade do infinito
E os pássaros cantarão quando o dia chegar
E eu já hei de estar morto à beira do caminho.

Rio de Janeiro, 1933