A um jovem Poeta

Você, que ainda é puro e sabe o quão fundamental é ela para a sua aventura de poeta, fica irado contra os outros, ao sentir que a sua presente agressividade é fruto de um complexo de culpa. É você, não os outros, quem está em crise. E se os outros também o estiverem, razão a mais para você afirmar-se em sua luta, que é a luta de todo poeta, para ajudá-lo a sair dela. Pois você não auxiliará ninguém, muito menos a si mesmo, se seu coração não estiver limpo de ressentimento e sua luta contra "o outro" não for constante. "O outro", não preciso dizer, é você próprio. É o súcubo que, todos, temos dentro de nós; o ser calhorda, comprável com a moeda da mentira e da lisonja, que de repente adota a gratuidade como norma, por isso que a paixão é mais insaciável que o infinito aberto em cima. E a paixão não se vende nunca.
Cada poeta é uma coisa em si, mas todos os poetas devem o mesmo à Poesia: a própria vida. Há, o poeta, que queimar-se e causar sempre mal-estar aos que não se queimam. Há que ser o grande ferido, o grande inconformado, o grande pródigo. Há que viver em pranto por dentro e por fora, de alegria ou de sofrimento, e nunca dizer "não" a ninguém, nem mesmo àqueles que optaram pelo não chorar.
Você meu caro Jovem Poeta, que foi dotado de talento e de beleza, não tem o direito de negar-se ao seu martírio. Só ele pode tornar a sua poesia emocionante. Só ele pode salvá-lo do formalismo em que caem os que se recusam a estar sempre despertos. É preciso que todos vejam a luz que seu coração transverbera, mesmo coberto por bons panos. Não negue o seu olhar de poeta aos homens que precisam dele, mesmo tendo o pudor de confessá-lo. Abra a sua camisa e saia para o grande encontro.
Vinicius de Moraes

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quaresma: Tempo de deserto para ouvir o Senhor que fala.

"Eis o tempo favorável o dia da salvação" (2 Cor 6,2)

Após a folia momesca, que incrível que pareça é prolongada para além de seus dias, a Igreja católica vive um momento litúrgico de preparação para a maior festa de seu calendário: a Páscoa.
Na quaresma tempo dedicado a conversão, (retorno) ao projeto divino, fazemos a experiência de homens e mulheres que anseiam pela vinda do reino, já anunciado por Cristo: "Cumpriu-se o tempo, e o reino de Deus está proximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho." (Mc 1, 15).

Em vista desse momento o Papa Bento XVI afirma o papel do Corpo Místico de Cristo, que é a igreja ressaltando a importância de uma "revisão sincera da nossa vida à luz dos ensinamentos evangélicos." É momento de refazer a caminhada percebendo as práticas ambíguas do nosso cotidiano que antes de mostrar a face do amor de Deus, gratuito aos homens, revela o seu oposto.

Por isso o Episcopado brasileiro escolheu este tempo para vivenciar os valores do reino através da Campanha da Fraternidade. Embora, versando a cada ano sobre um tema e duramente criticada por não ter muita repercussão fora da quaresma,a campanha da fraternidade na sua dimensão mais profunda está sempre em relação com a vida. Portanto, mesmo que se faça reflexões específicas e aparentemente estanques, a Campanha trabalha a dimensão profética que desmonta estruturas a fim de construir relações mais justas.

Este ano a campanha da Fraternidade aborda o problema de uma economia excludente que não gera vida, portanto, vai contra o projeto de Jesus para a humanidade e toda a sua criação. "Na Bíblia, os pobres e todos os necessitados estão no centro da justiça que Deus exige das relações humanas e econômicas. A pobreza é produto de decisões e de políticas humanas. Reverter a situações de extrema necessidade de um elevado número de cidadãos e cidadãs brasileiros é obrigação inadiável de uma de uma sociedade como a nossa que aspira a ocupar lugar entre os países mais desenvolvidos do mundo."

Façamos então essa caminhada rumo a páscoa de jesus que se dá todo dia por nós. ouvindo sua Palavra que nos impulsiona a oração e a sair de nós mesmos pela prática saudável de um jejum não alienado pelas estruturas e caridade fraterna.

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